Atualmente observa-se em meio a sociedade uma pandemia de depressão um aumento significativo no diagnóstico, isso vem em decorrência do mal-estar da civilização. O estar depressivo é consequência do sofrimento psíquico do sujeito, se caracterizando com sintomas de apatia, tristeza, sensação de impotência e desesperança. Tudo ao externo do depressivo passa despercebido deixando de realizar atividades rotineiras como se alimentar ou dormir corretamente, ocasionando prejuízos no sistema digestivo e o corpo apresentando estar pesado, com sensação de estar carregando uma tonelada de concreto. Segundo Freud (1918) a depressão é representada por uma figura do corpo angustiado e dolorido resultado de uma perda do objeto amado.
Segundo Moreira (2002), a palavra depressão está sendo substituída pela palavra melancolia, percebendo que alguns autores defendem a distinção das duas palavras, sendo que há diferenças entre depressão e melancolia. Observa-se nos usos de antidepressivos a eficiência para o tratamento de transtorno de depressão, mas há uma ineficiência com o tratamento de melancólicos, por motivos de os antidepressivos não serem anti-melancólicos.
O que é a melancolia? Em seus estudos Freud focou na melancolia, afirmando que o afeto correspondente da melancolia é o luto. O melancólico apresenta um grande desejo em recuperar seu objeto perdido, se tratando de uma perda pulsional, perda da libido. Pode – se relacionar a melancolia com o luto por serem semelhantes. Os dois foram desencadeados por fatos ocorridos na vida. O enlutado, sofre por querer seu objeto amado de volta. Na melancolia observamos esse mesmo sofrimento, só que no luto se espera que o sujeito desloque o seu investimento de libido que está sendo investido no objeto perdido para um outro. Na melancolia há uma dificuldade em fazer esse deslocamento, como se o sujeito negasse o seu exterior e agarrasse no seu objeto perdido como uma psicose alucinatória de desejo, apresentando uma dificuldade para simbolizar.
Segundo Lambotte (2007), diferente da depressão, a melancolia é uma patologia narcísica. O narcisismo é um estágio normal que o sujeito passa durante seu desenvolvimento, a pessoas que apresentam dificuldades para passar essa fase e acabam ocasionando uma fixação no narcisismo, podendo ocasionar uma enfermidade. No caso da melancolia pode haver uma fixação no narcisismo infantil, decorrente de algum rompimento do laço afetivo. O objeto do melancólico foi escolhido baseado na regressão do narcisismo primitivo, apresentando punições contra seu corpo e associado a sentimentos de culpa. Nesses casos, se exige do analista um manejo clínico, focado nas auto agressões do paciente.
A depressão e a melancolia são ocasionadas por perdas de objetos, mas há um diferencial é que a depressão não há falha no narcisismo. O melancólico não perdeu o seu objeto, ele se perdeu no objeto. Enquanto o depressivo queixa do que perdeu, trazendo em seu discurso o que ele foi um dia, apresentando uma perda de si mesmo e de um tempo que não volta mais, um vazio reproduzido por uma idealização da cultura do narcisismo, que é uma cultura que gera grande exigências no eu, consumo e aparência.
Segundo kehl (2009), o sentimento de desesperança do melancólico está associado ao outro (mãe), que não o colocou em lugar de desejo quando recém nascido, se apresentando como alguém que está preso num tempo onde o outro nunca vem ao seu encontro. Diferente do melancólico! o depressivo utiliza o tempo morto como forma de refúgio das exigências do grande outro que se apresenta em excesso e nunca falta. Muitos desses sujeitos faziam usos abusivos de objetos como drogas, com objetivo de fugir dessas exigências.
Conclui – se que a diferença entre melancolia e depressão. Na melancolia encontramos os elementos culpa e conflito, enquanto na depressão não há esses elementos, e o conflito se dá entre o ego e o ideal de ego, que em consequências observa o sofrimento do depressivo em não conseguir conquistar as exigências sociais. Enquanto o melancólico fica preso numa mesa de jantar na espera infinita do grande outro, negando a eterna falta. Tanto um como o outro são sofrimentos originários de perdas, a melancolia está associada a uma perda inconsciente apresentando uma impossibilidade em se elaborar o luto. Orientasse os analistas a uma compreensão singular do que o sujeito viveu em sua perda e sua significação subjetiva. Assim possibilitamos uma vivência da perda e uma elaboração desse luto, mas isso exige um trabalho cuidadoso. Enquanto na depressão há uma possibilidade de simbolização e um manejo clínico de deslocamento de objetos.
Referências:
“O mal-estar na civilização” (1938). ESB, vol. XXI. Rio de Janeiro: Imago, 1969.
Moreira, A. C. G. (2002). Clínica da melancolia. São Paulo: Escuta/ Edufpa.
lambotte, M.-C. (2007). La mélancolie. Études cliniques. Paris: Economica Anthropos
kehl, M. R. (2009). O tempo e o cão: a atualidade das depressões. São Paulo: Boitempo.