O tráfico é o comércio de produtos ilícitos e clandestinos que são de comercialização proibida, havendo detenção para quem insistir na venda. Atualmente observa-se o grande aumento de adolescentes encantados pelo tráfico de drogas, um mundo rodeado de prazeres (drogas, armas e sexos) e riscos de uma detenção ou uma morte precoce. Esse tema acarreta a questionar sobre o que seduz esses jovens as fantasias da criminalidade?
Segundo Guerra, Soares, Pinheiro, Lima (2012), Freud não utiliza o termo adolescência e sim puberdade que é uma passagem que gera transformações no corpo, afetando o saber da criança referente ao seu corpo no momento que está sendo vivenciado, assim ocasionando um grande trauma. Adolescência é um termo inventado pela sociedade, os jovens não passam pela adolescência, ela acaba sendo uma grande pausa durante o desenvolvimento, por motivos que nessa fase da vida, não sabemos oque esperamos desses sujeitos. Segundo Calligaris (2000), na cultura não há rituais de passagem que marcam a saída da infância para a fase adulta. O jovem acaba ficando perdido sobre o seu papel social, apesar dos inúmeros exemplos que a sociedade impõe sobre trabalho e vida afetiva. Suponha que a fase da adolescência é marcada por uma grande pausa em branco, para depois uma entrada na vida adulta, e essa pausa pode gerar grandes consequências.
Guerra, Soares, Pinheiro, Lima (2012), quando a puberdade se desperta ocorre através da sexualidade um furo no real, abrindo uma entrada para a vida sexual, drogas e criminalidade, esses objetos oferecem um tampão para a falta estrutural. Muitos desses jovens nessa entrada para puberdade, acabam se tornando pais, casam, assumindo um papel de patriarca, se responsabilizando pelas finanças e dívidas da família, no momento onde sua escolha sexual não está definida. Podendo ocasionar uma entrada no tráfico de drogas, com objetivo de assumir as responsabilidades impostas pela sociedade.
Segundo o autor supracitado, o furo no saber geram dúvidas no jovem e ele necessita construir um saber sobre si, para que assim ele possa alojar seu gozo e sustentar seu desejo e com o compasso de espera, ele poderá construir uma resposta sintomática e particularmente construir sua relação com o mundo e o gozo. Mas com a falha no furo do saber que acontece com alguns jovens, e acabam conduzindo sua inscrição e laço social no mundo do crime. O saber da criminalidade será as respostas para a inscrição no laço social, assim ele irá produzir um saber sobre si mesmo. A criminalidade é acompanhada por violência e agressividade. Os jovens que se seduzem por esse estilo de vida, a agressividade encontrada nesse âmbito servirá como um escoamento pulsional para esses jovens, numa tentativa de esvaziar pelo imaginário a alteridade, por motivos de o gozo mortífero gerar raiva direcionada a si mesmo e contra o outro.
O laço grupal construídos pelos criminosos é sustentado pela identificação que esses sujeitos têm entre si. essa identificação é operada pelo líder que é nomeado como o ideal do eu, uma identificação egóica com os seus eus, no qual os jovens buscam a ficar parecido com o grande líder e colegas, copiando seus trajes e linguajar, sendo como um reflexo do imaginário. Ao contrário do pai que está morto simbolizado pelas regras e boa convivência social, se deparando com o pai vivo figurado o líder do tráfico que é idealizado e temido, por seu armamento e drogas. Onde o sujeito é cometido por um gozo mortífero onde você mata ou morre, não havendo uma saída.
Segundo Zizek (2003), não vivemos mais na civilização de Freud, onde os questionamentos psicanalíticos era a sociedade e a repressão do gozo, no qual não podemos gozar, por que havia proibições sexuais de autoridade paternas. Atualmente não se cabe mais as proibições de gozo, mas sim da obrigação de gozar. Vivemos em meia a era digital, onde as mídias reproduzem os sujeitos gozando de varias formas, fazendo com que cada pessoa se sinta pressionado a procurar sua forma de escoamento. Observa que em meio ao tráfico de drogas o jovem encontra disponibilidade para várias formas de escoamento das pulsões, por motivos de o movimento de vendas gerar o dinheiro que é um simbólico de objeto de troca, onde trocamos um papel por fonte de prazeres.
Conclui-se que o jovem esfomeado por satisfação, acaba não conseguindo dar o intervalo simbólico necessário para se saber mais de si, se insere na trama do imaginário do outro do tráfico, não sendo mais o sujeito que busca se apropriar de suas experiências, se torna o objeto do outro tendo como objetivo manter o sistema do crime, encontrando a resposta para suas dúvidas de laços sociais e formas de escoamento de suas pulsões.
O adolescente na ação reescrita do gozo fica dividido entre dois caminhos o não saber sobre si e de seu corpo sexual púbere no outro lado os recursos disponíveis para remendar sua trama simbólica enfraquecida. no processo psicanalítico oferece a esse sujeito uma forma de ele não se desfazer de seu desejo, mas que ele possa procurar respostas para lidar com o seu eu.
REFERENCIAS;
Zizek, S. (2003). O hedonismo envergonhado [Caderno Mais!]. Jornal Folha
de São Paulo
Calligaris, C. (2000). A adolescência. São Paulo: Publifolh
Andréa Máris Campos Guerra, Camila Alves Noberto Soares, Maria do Carmo de Melo Pinheiro, Nádia Laguárdia de Lima 5 Expressões encontradas nas entrevistas realizadas na pesquisa “O laço social entre jovens moradores de territórios com alto
índice de criminalidade violenta” (GUERRA, 2009), financiada pela Fapemig e pelo FIP/PUC Minas.