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Uma Mãe Narcísica na Perspectiva Freudiana

Sigmund Freud, ao desenvolver a psicanálise, enfatizou a influência dos primeiros relacionamentos na constituição do psiquismo. A relação com a mãe ocupa um lugar central nesse processo, pois é nela que o bebê encontra seu primeiro objeto de amor e identificação. No entanto, quando essa mãe apresenta traços narcísicos, a dinâmica afetiva se torna mais complexa, podendo gerar marcas profundas na subjetividade do filho.

O Narcisismo Materno e a Formação do Eu

Freud introduziu o conceito de narcisismo em Introdução ao Narcisismo (1914), diferenciando o narcisismo primário, natural no bebê, do narcisismo secundário, que ocorre quando o indivíduo volta sua libido para si mesmo em resposta a frustrações externas. A mãe narcísica, por sua vez, projeta no filho suas próprias necessidades de validação, tratando-o não como um ser independente, mas como uma extensão de si mesma.

Essa dinâmica impacta diretamente o desenvolvimento do Eu da criança. Como Freud aponta, o Eu se constitui a partir das identificações com os pais, mas, no caso de uma mãe narcísica, essa identificação pode ser sufocante. A criança pode crescer sem a permissão para desenvolver sua própria identidade, sentindo-se constantemente obrigada a atender às expectativas maternas para obter amor e reconhecimento.

O Complexo de Édipo e a Mãe Narcísica

No contexto do Complexo de Édipo, a mãe narcísica frequentemente ocupa uma posição centralizadora, dificultando o processo natural de separação e diferenciação do filho. Freud descreve que, para um desenvolvimento psíquico saudável, a criança precisa superar essa fase, identificando-se com o pai (ou outra figura simbólica) para formar sua própria identidade. No entanto, a mãe narcísica tende a minar essa separação, prendendo o filho em uma relação simbiótica onde sua individualidade não é reconhecida.

Essa dinâmica pode gerar adultos inseguros, com dificuldades em estabelecer relações saudáveis, pois carregam a crença inconsciente de que precisam corresponder às expectativas alheias para serem amados. Além disso, podem desenvolver sentimentos de culpa e inadequação sempre que tentam se afirmar como indivíduos independentes.

Consequências Psíquicas e Possibilidades de Transformação

A presença de uma mãe narcísica pode levar a sintomas como ansiedade, depressão e baixa autoestima. Freud ressalta que o inconsciente é moldado por essas primeiras experiências, mas também enfatiza a possibilidade de transformação por meio da análise. O processo terapêutico permite ao indivíduo tomar consciência dessas dinâmicas, ressignificar sua relação com a mãe e construir uma identidade mais autônoma.

A psicanálise, portanto, oferece um caminho para compreender e elaborar os impactos de uma mãe narcísica, permitindo que o sujeito rompa com padrões inconscientes de submissão e busque relações mais saudáveis e autênticas. Como Freud bem observou, “onde estava o Isso, deve advir o Eu” — e isso inclui libertar-se das projeções maternas para se tornar verdadeiramente si mesmo.

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