No dia 17 de agosto de 2020 o Brasil deparou-se com um caso de abuso sexual infantil aonde gerou uma revolta em meio a sociedade. Uma menina de 10 anos foi abusada sexualmente pelo tio de 51 anos, em consequência do ato, a vítima engravidou do abusador. O caso ocorreu na cidade de São Matheus (ES) a gestação foi confirmada após uma realização de um exame médico, feito através de queixas da criança com dores abdominais. Segundo Malgarim Benetti (2010), com o aumento frequente no número de casos de abusos sexuais infantis e em decorrência também das graves consequências traumáticas ocasionadas com vítimas e seus familiares, a OMS em 1999 considerou um grande problema de saúde pública.
Segundo Nasio (2019), o trauma é um acontecimento violento que acarreta na vítima um excesso de excitação, ocasionando uma incapacidade de reagir a uma fuga e de verbalizar seus sentimentos e emoções provocado pelo abuso. Os acontecimentos traumáticos podem ser únicos ou acumulados, no caso da menina de 10 anos, os episódios ocorreram num período de 4 anos. Segundo Malgarim Benetti (2010), as experiências traumáticas geram sérios problemas cognitivos e emocionais, como por exemplo: dificuldades de relacionamento, dificuldade com a sexualidade na fase adulta, depressão, desejos suicidas entre outros.
O significado da palavra incesto é a relação sexual entre parentes (consanguíneos ou afins), dentro dos graus em que a lei, a moral ou a religião proíbe. No caso contado acima, observa-se que o abusador tinha um parentesco de tio com a vítima, segundo Malgarim Benetti (2010), o incesto é o ato de abuso sexual mais comum na cultura Brasileira, por se evidenciar pelo grau de parentesco, pautando pelo fato dos envolvidos serem criança e responsável. A vítima acaba compreendendo o ato de abuso como um afeto, para em seguida após muitas ocorrências ela acaba entendendo como um sentimento de insegurança e dúvida. No caso da criança e o tio, a menina ficava aos cuidados da avó, onde o tio frequentava o mesmo ambiente, compreende que o abusador se beneficiou de sua relação com a vítima, confundido a mesma com a sua forma de dar afeto, que é entendido como abuso sexual. Quando a vítima compreendeu a realidade da situação como abusivo passou a silenciar por 4 anos, frente a culpa, medo e insegurança.
Araújo (2002) considera que, nos casos de violência sexual intrafamiliar, pode se observar uma disfunção em pelo menos três níveis: o poder exercido pelo grande (forte) sobre o pequeno (fraco), a confiança que o pequeno (dependente) tem no grande (protetor) e o uso perverso da sexualidade, na qual um se apodera do corpo do outro e o usa segundo seu desejo. É muito comum em meio ao contexto familiar de famílias abusivas a cultura do silencio, sendo mantido por todos os membros por conta do medo e a vergonha, muitas vezes esse segredo acaba passando por várias gerações.
A noção de trauma na cultura psicanalítica segundo Laplanche e Pontalis (1998), é a incapacidade do sujeito de lidar com situações de acontecimentos que foram vivenciado durante seu desenvolvimento, que hoje são reproduzidas em forma de sintomas que são efeitos patogênicos duradouros que provocam a organização psíquica. Os conflitos são examinados e compreendidos a partir das fantasias inconscientes e da realidade psíquica do sujeito.
Segundo Magarim Benetti (2010), as memórias traumáticas associadas aos abusos sexuais infantis estão nas fantasias sexuais agressivas do período de abuso, quanto mais precocemente ocorrer o ato, mas sintomático será a resposta da vítima por conta da incapacidade do ego de organizar as experiências traumáticas.
Conclua-se que as vítimas de violências sexuais, sofrem grandes problemas psíquicos em decorrência a exploração sexual. Os traumas gerados pelos episódios de abusos são os estragos produzidos na capacidade do sujeito de simbolizar e transformar, favorecendo os chamados de zonas mortas do psiquismo que são os fantasmas que assombram esses sujeitos nas fases adultas, afetando nas suas escolhas amorosas e possibilidade de fruição da sexualidade. Orienta-se que as vítimas de violências sexuais procurem um acompanhamento psicoterápico, para poder lidar com seus traumas que estão recalcados no inconsciente.
REFERENCIAS:
Nasio Juan David, 1942. Sim a psicanalise cura. Rio de Janeiro, Zahar 2019
Magarim B. Benetti s. o abuso sexual no contexto psicanalítico: das fantasias edípicas do incesto ao traumatismo.
Araújo, M. F. (2002). Violência e abuso sexual na família. Psicologia em Estudo, 7(2), 3-11
Laplanche, J & Pontalis, J. (1998). Vocabulário de Psicanálise. (3ª edição). São Paulo: Martins Fontes.
Uma resposta em “Os traumas ocasionados na exploração sexual infantil”
Helen,
Excelente texto!
Pudera todas as vítimas dos mais diversos abusos soubessem ao menos poder “contar” pra alguém.
Quanto aos traumas. Depois de identificados, analisados qual seria o próximo passo pra eliminação da angústia, e a ressocialização deste sujeito?