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Psicanálise

O AMOR

Em psicanálise, o amor contém um conceito diferente da paixão e do estar namorando, o amor está fortemente ligado a libido e o desejo. Segundo Freud (1906/1907), o processo de cura psicanalítica é realizado através do amor, pelo motivo de ele conter todos os componentes do instinto sexual. Os sintomas que provocam o sujeito a uma procura de um tratamento psicanalítico é o amor reprimido, e o trabalho do analista será a libertação desse amor.

Freud (1914/1996), cita: “devemos amar para não adoecer”. O sujeito aprende a amar o outro para que assim ele possa não se sentir desamparado. Na infância entende-se que esse desamparo é uma forma de proteção que a criança sente quando é amparada pelas pessoas que acercam. (KUSS, 2015).

A criança aprende a amar as pessoas que as protegem e satisfazem as suas necessidades. A forma que a criança ama as pessoas que estão no seu convívio durante o desenvolvimento, será relacionada a forma que ela vai amar durante a sua fase adulta, a qual ocasiona numa busca constante pelo objeto perdido. A perca desse objeto, inscreve há marca da falta para o ser humano. (kuss, 2015).

Não há existência desse objeto que se diz como perdido, ele nunca existiu, por isso que não pode ser alcançado. O desejo se desliza de objeto em objeto. Observa-se essa busca a procura constante do sujeito num grande outro que irá amar e o completar.

Freud (1905/1906), o encontro do objeto é um reencontro. Esse objeto que está como perdido tem relação com o desmame. Quando o sujeito perde seu primeiro objeto de amor que é o seio materno, que foi produto de satisfação e prazer durante seu desenvolvimento, está estabelecido a falta. Para Massota (1975), a sexualidade se estrutura através da falta, o que vai fundamentar as relações na vida adulta. O sujeito vai descobrir essa falta através da pratica psicanalítica.

O ser humano aprende a amar um outro por que há uma dependência desse outro para viver e evitar o sentimento de desamparo. Segundo Kuss (2015), “A sensação de desamparo vivida na infância é uma dependência designada como a angustia de perda do amor”. (apud Miller 2010 .2). O sujeito tem uma dependência do grande outro, que é considerada necessária para uma satisfação.

O amor está relacionado ao narcisismo, pelo motivo de o sujeito ir em busca do amor do outro com um propósito de uma satisfação. Nesse amor narcísico o sujeito irá direcionar a libido para o seu eu, numa forma de recriar o narcisismo infantil.

O amor dos pais com seus filhos é o narcisismo deles mesmos. Quando um casal está na espera de um bebe, há uma idealização desse filho que está sendo esperado. Os pais passam a depositar todos os seus desejos que não foram supridos no filho, desejando que os filhos realizem seus desejos que não foram concebidos. Assim os filhos passam a ser o ideal para seus pais. Quando adulto esse filho terá o seu ideal construído através de influências externas, passando a ter seus próprios desejos, sendo assim, possível de ser amado por um outro.

Segundo Kuss (2015), “há uma relação na quantidade de amor que se recebe do amado ao aumento e à diminuição da autoestima, na vida amorosa a percepção de não estar sendo amado reduz o autoconceito, ao passo que estar sendo amado o eleva” (apud FREUD 1914 p. 115). Observa-se quanto mais o amante investe libido no amado, mais dependente o amado se torna dele, pelo motivo de gerar uma baixa autoestima no amante. Quem investe libido em seu objeto sacrifica o seu narcisismo para reconstruir e sendo amado. Entende-se que é preciso ser amado pelo objeto que se investe a libido para que se possa estar bem.

O amor é desde uma paixão ao o desejo de construir e se unir ao outro. Refere-se o amor a falta que se constitui do sujeito, mas ele não tem o poder de eliminar essa falta, por motivos de que a vivência em meio a civilização é um sofrimento constante em meio a tantas exigências que são impostas. Segundo Freud (1929/1930), o mundo externo e as relações humanas em meio a ele, são consequências de uma infelicidade que acompanha o sujeito.

Procuramos o objeto amado de forma inconsciente. O homem irá buscar na sua mulher amada a imagem mnêmica da mãe, qual foi a imagem que ele vivenciou da mulher hostil e perfeita durante a sua infância. Por esse motivo que os pais devem investir numa boa relação com seus filhos, porque será essa relação que irá procurar ter em sua fase adulta. Observa-se na questão do violência doméstica, se uma criança vive num ambiente conturbado de violência, em sua fase adulta achará normal agredir a esposa.

O amor estar estruturado na fantasia é um encontro e reencontro com o objeto perdido. Pode considerar um encontro com aquele pai ou aquela mãe que ficou inscrito na infância do sujeito. Amor não é a relação sexual, de modo algum o amor é sexo. A relação sexual é um disfarce do amor, para Kuss (2015), “não existe relação sexual o amor é o disfarce dessa não relação. O que é muito mais interessante, no amor o sujeito procura abordar o ser do outro”. (apud BADIOU E TRUONG 2009/2003 p.18).

Conclua-se que o amor é mais que uma relação de ganhos narcísico, está além da repetição, indo numa direção de algo novo. O amor é uma solicitação que o sujeito saia do seu próprio gozo, é uma substituição do objeto perdido. Ele é uma demanda que surge como tentativa de expressão do desejo.

REFERENCIAS:

  Freud S. (1905). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Rio de Janeiro: imago.

  Freud S. (1906/1907). Delírios e sonhos na gradiva de Jensen v.9. Rio de janeiro: imago.

  Freud S. (1914/1996). Sobre o narcisismo: uma introdução. Rio de janeiro: imago.

FREUD, Sigmund (1939). O Mal-Estar Na Civilização. São Paulo: PenguinClassics Companhia das letras, 2011. 21 v. 

Massota, Oscar, 1930-1979. “O comprovante da falta”: lições de introdução a psicanalise/ Oscar Massota; [tradução de Maria Aparecida Baldinu Cintra]. – Campinas, SP: Papirus, 1987.

KUSS, Ana Suy (2015). Amor, desejo e psicanalise. Curitiba. Juruá.

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